Na capital moçambicana, a crise silenciosa dos sanitários públicos expõe uma ferida urbana profunda. Em mercados, bairros periféricos e mesmo no centro da cidade, cidadãos enfrentam instalações degradantes: casas de banho sem portas, entupidas, sem água, sabão ou iluminação — quando existem. A consequência imediata é clara: riscos graves à saúde, insegurança e violação dos direitos humanos fundamentais.
Moradores como Lídia Tembe, vendedora no mercado grossista do Zimpeto, denunciam a realidade insustentável: “Às vezes prefiro voltar para casa com dor no estômago do que usar a casa de banho do mercado.” A ausência de estruturas adequadas força muitos a recorrer a terrenos baldios e muros para necessidades fisiológicas, como observado por esta reportagem, que acompanhou o cenário em bairros como Chamanculo.
A falta de ação eficaz por parte das autoridades municipais contribui para a manutenção do problema. Embora o Projecto de Transformação Urbana de Maputo (PTUM) tenha previsto a construção e reabilitação de sanitários em 2020, a gestão posterior continua frágil. Entidades responsáveis, selecionadas por concurso público, enfrentam obstáculos como falta recorrente de material de limpeza, revelando a ausência de um plano de manutenção sustentável.
Segundo a técnica de saúde Marta Tomás, a precariedade tem impactos diretos: “Doenças como diarreia, cólera e infecções urinárias são inevitáveis onde não há saneamento básico.” Um caso relatado por uma estudante, que desenvolveu infecção urinária após usar um sanitário público, ilustra o perigo constante a que a população está sujeita.
A situação revela não apenas uma falha de infraestrutura, mas uma negligência institucional perante o direito ao saneamento básico, reconhecido pela ONU e protegido pela Constituição moçambicana. Dignidade, saúde e cidadania estão literalmente em risco — e a resposta não pode mais ser adiada.
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