
A poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares é a grande vencedora da 37.ª edição do Prémio Camões, o mais importante galardão literário da língua portuguesa. O anúncio foi feito nesta quarta-feira pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), em Portugal.
Com esta conquista, Ana Paula Tavares faz história ao tornar-se a primeira autora angolana a receber o prémio, que já distinguiu os moçambicanos José Craveirinha (1991), Mia Couto (2013) e Paulina Chiziane (2021).
“A poesia tem um lugar nas nossas vidas”
Segundo o júri, o prémio reconhece “a fecunda e coerente trajectória de criação estética” da autora e o seu papel no “resgate da dignidade da Poesia”.O comité destacou ainda que a sua obra “ganha relevante dimensão antropológica e histórica”, pela forma como une lirismo, crónica e narrativa ficcional.
Em declarações à agência Lusa, Ana Paula Tavares disse receber o prémio com emoção e responsabilidade:
“Espero que haja a possibilidade de continuar a provar que a poesia tem um lugar nas nossas vidas, nos nossos compromissos, nas nossas lutas diárias.”A escritora dedicou o reconhecimento às mulheres angolanas, que descreveu como “aquelas que, em silêncio, lutam todos os dias para reconstruir a vida”.
“Não falo em nome delas, mas se a minha palavra puder tocá-las e tocar quem pode mudar as coisas, já será um objectivo alcançado”, acrescentou.
Uma voz feminina central na literatura lusófona
Nascida em Lubango, em 1952, Ana Paula Tavares é doutorada em Antropologia da História pela Universidade Nova de Lisboa e actualmente vive em Lisboa, onde lecciona na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.A autora integra a chamada “geração de 80” da literatura angolana, marcada pela reflexão sobre a identidade, a história e o papel da mulher.
A sua poesia destaca-se pela fusão entre a religiosidade cristã e a tradição africana, com símbolos fortes cores, frutos e ornamentos como expressões de resistência e liberdade.
Entre as suas principais obras estão:
- Ritos de Passagem (1985)
- O Lago da Lua (1999)
- Dizes-me Coisas Amargas Como os Frutos (2001)
A Editorial Caminho, que edita a sua obra, reagiu com entusiasmo à distinção:
“Ana Paula Tavares é uma referência incontornável da língua portuguesa. Recebemos esta notícia com imensa alegria.”
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